50: Conheça a cultura e as tradições britânicas
Qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando pensa na cultura britânica? O mais provável é que seja uma série de estereótipos tradicionais. Por um lado, talvez imagine o James Bond a pedir um sofisticado Martini, ou os famosos mais estilosos que assistem ao Wimbledon; por outro, talvez se ria ao recordar as excêntricas embrulhadas causadas pelo Mr. Bean. O Reino Unido é uma nação multinacional e multiétnica, cheia de diversidade e contrastes. Mas, mesmo assim, dificilmente encontrará um britânico que não goste de uma boa chávena de chá com uma deliciosa bolacha de chocolate.
Nesta publicação do nosso blog vamos dar uma vista de olhos a alguns dos hábitos e tradições mais características dos britânicos. É importante esclarecer que eu sou natural da república da Irlanda, mas a verdade é que os irlandeses têm bastantes particularidades em comum com os nossos vizinhos. Também vivi na Grã-Bretanha, e atualmente estou rodeado de muitos Brits maravilhosos no British Council de Barcelona. Para ser objetivo (e, naturalmente, evitar controvérsias), perguntei a amigos e colegas britânicos quais seriam, na sua opinião, os hábitos que considerariam como sendo específicos do Reino Unido, para o bem e para o mal. E foi isto que consegui averiguar.
1. Cumprimentos incómodos
O meu amigo Tamsin, de Leicester, sugere que não existem regras precisas para cumprimentar alguém no Reino Unido; o único que invariavelmente se repete é o facto de ser constrangedor. Num país como Espanha ou Portugal, as regras sociais sobre o aperto de mão ou os dois beijos são bastante claras. No Reino Unido, os cumprimentos podem ir desde um formal aperto de mão até um abraço, um leve movimento com a cabeça ou, inclusivamente, um simples "Hello".
É esta falta de normas que constitui um desastre social, pois às vezes uma pessoa dispõe-se a dar um abraço enquanto a outra lhe oferece uma reservada inclinação de cabeça. O resultado é uma situação constrangedora para todos, e é assim que começa uma típica interação britânica! Para tentar minimizar o desconforto, tenha pelo menos sempre à mão umas quantas expressões típicas inglesas.
2. Chá (com bolachas, claro)
Não é apenas um estereótipo. Quando perguntei aos meus amigos e colegas qual era a quinta-essência dos hábitos britânicos, quase todos mencionaram imediatamente que era beber uma agradável "cuppa". Esta palavra, "cuppa" (/ˈkʌpə/), é uma forma muito habitual de referir-se à tradicional "cup of tea" (chávena de chá), visto que quando se pronuncia esta expressão ela soa mais como "cuppa tea". E é verdade que esta humilde infusão constitui a base de diversas interações sociais no Reino Unido.
A maioria dos britânicos toma chá ao pequeno-almoço, chá durante as pausas no trabalho, chá antes de se deitar, chá quando recebe uma visita, chá durante uma reunião, chá para ajudar a decidir como resolver uma situação complicada… já percebeu a ideia, certo? E não nos podemos esquecer da magnífica arte britânica do "dunking", isto é, molhar uma bolacha no chá antes de a comer. De facto, um dos debates nacionais gira em torno daquela que é a melhor marca de bolachas para o dunking.
3. Ir ao pub
À semelhança de muitos dos meus outros inquiridos, Simon, de Essex, afirmou que para si a principal tradição britânica é ir ao pub. Muitas pessoas recorrem ao seu "sítio", ou seja, o pub que habitualmente frequentam e no qual conhecem tanto o pessoal, como os restantes clientes. Lembro-me que quando trabalhava num escritório londrino, toda a equipa, de cerca de 50 pessoas, tinha o curioso hábito de ir junta ao pub todas as sextas-feiras depois do trabalho (e, às vezes, também às quintas-feiras). Mas nem tudo consiste em beber.
Uma ida ao pub pode incluir jogar aos dardos, ver alguma competição desportiva na televisão, petiscar algum "pub grub" (é o nome da comida que se serve no pub) ou até participar em algum concurso organizado pelo próprio estabelecimento.
4. Pagar as bebidas por rondas
Vários dos meus consultores referiram que caso decida experimentar a cultura dos pubs, tem de ter em conta que outra tradição britânica é a de pagar as bebidas por rondas, ou seja, em vez de pedir individualmente a sua bebida, habitualmente pedem-se (e pagam-se) as bebidas do grupo todo. Os seus acompanhantes devolver-lhe-ão o favor quando lhe oferecerem a próxima bebida, e as seguintes a essa, dependendo do número de pessoas que componham o grupo.
Aqui sim, é importante ter cuidado: se não está tão habituado ao álcool como os seus colegas, sair com o grupo pode ter como consequência uma bela ressaca no dia seguinte. Quando já tiver bebido que chegue, é livre de ir para casa; aqueles que lhe devam bebidas (normalmente) vão lembrar-se de as oferecer na próxima vez que for ao pub.
5. Pedir desculpa
Um hábito que muitos dos meus inquiridos destacaram como particularmente britânico foi o excesso de desculpas. Jane, de Londres, comenta que perante qualquer mal-entendido, a reação automática da maioria dos seus concidadãos é pedir desculpa, independentemente de quem for a culpa. Contou-me que, se ao sair do metro um homem se esbarrar contra ela ao entrar a correr na carruagem, a sua própria reação instintiva é exclamar "Oooh, sorry!", apesar de, claramente, a culpa não ter sido sua.
Ainda há casos mais chocantes, como aquelas pessoas que ao cruzarem-se com outras pelos corredores do escritório sussurram "Sorry!" inclusivamente quando há espaço suficiente para que ambos passem confortavelmente. Uma vez, a minha ex-colega de apartamento em Londres chegou a pedir desculpa, sem pensar, a um cão que tinha tropeçado na sua perna.
6. Identificar o sotaque
Vários colegas destacaram o hábito britânico de tentar adivinhar as raízes de uma pessoa através do seu sotaque. Naturalmente, esta tendência existe em todos os países, mas é verdade que o Reino Unido conta com uma particular variedade de sotaques regionais claramente distintos .
A tal ponto que, quando um londrino se encontra com outro, é bastante possível que ambos saibam automaticamente de que parte de Londres provém cada um só pelo sotaque. Este fenómeno não se limita às grandes cidades, pois também é visível em muitas áreas rurais. Os britânicos, de facto, costumam falar deste tema com o objetivo de quebrar o gelo nas reuniões sociais. Por exemplo:
Jeff: So, would I be right in guessing that you’re from Cornwall, Harold? (Então, se não me engano, o Harold é da Cornualha, certo?).
Harold: Oh, close enough. I’m actually from Devon (Bem, quase, na verdade sou de Devon).
7. Identificar a classe social
Em várias das respostas à minha pergunta sobre a cultura britânica, muitas pessoas mencionaram a obsessão com as classes sociais. Um fator importante neste âmbito é, de novo, o sotaque. Por exemplo, se alguém estudou num "public school" (que, ironicamente, é o nome utilizado para designar os colégios privados mais exclusivos do Reino Unido), terá um sotaque muito característico. Trata-se de alguém que teve muitas conversas com amigos britânicos do género de: "Bem, os meus avós pertenceram à classe trabalhadora, mas pouparam dinheiro para enviarem um dos seus filhos a um public school para que adquirisse um sotaque elegante e se tornasse num advogado".
Muitas vezes, o nível social de uma pessoa deduz-se a partir do seu sotaque ou dos contactos da sua família, mais do que a partir do saldo da sua conta bancária. Os britânicos tendem a falar abertamente sobre as classes sociais, e consideram, inclusivamente, que determinados supermercados, jornais ou atividades vêm rotulados pela classe a que pertença uma pessoa… o que significa que um dos seus passatempos preferidos é adivinhar secretamente a classe social das restantes pessoas.
8. Apanhar sol onde quer que seja e em qualquer momento
Um último hábito, que me foi sugerido pela Sandra de Londres, é a predisposição dos seus compatriotas para apanhar sol enquanto este iluminar o céu. Talvez seja uma necessidade biológica, um comportamento comum a todas aquelas pessoas que habitam em países onde o astro-rei sai caro. A verdade é que qualquer dia soalheiro no Reino Unido com uma temperatura superior a 18 graus provoca um delírio em massa: a multidão desabotoa as camisas, arregaça as mangas e deixa tudo o que estiver a fazer para se sentar ao sol, seja num parque, numa praça ou numa paragem do autocarro: literalmente em qualquer sítio ao ar livre.
Mas quem poderá culpá-los por aproveitarem ao máximo os poucos raios que acariciam a sua terra? Infelizmente, esta tendência não é assim tão saudável quando estão de férias em países quentes como Espanha ou Portugal, e em vez de adquirirem um invejável brilho dourado acabam vermelhos como uma lagosta.
Quero agradecer a todos os meus amigos e colegas por terem partilhado comigo alguns dos hábitos e tradições britânicas mais representativas. É claro que existem muitas outras que poderíamos adicionar à lista.
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